Run After Me or Let Me Die Of Shame

E lá estava Ele, como sempre, deitado mais ou menos confortável, observando o tempo a passar e a vida a acontecer.

De mansinho, Ela passa, destemida, insinuando-se, vaidosa, confiante, à sua frente, fazendo-se notar, passeando de um lado para o outro, tentando-o. Ou tentando.

Noutros tempos, teria corrido atrás dela, agarrado aquele corpo, rasgado aquela roupa com avidez, havia de segurá-la entre entre os dentes e mordê-la, até a sacudir.

Noutros tempos, tê-la-ia perseguido, alcançado; teria satisfeito o seu desejo. Noutros tempos, sim, agora não.

Estava velho e cansado, já o havia feito muitas vezes, já não lhe dava a pica que dava no início, já não era uma relação de predador-presa, em que a fome e vontade do comer se juntavam ao prato mais apetecível e, ao rubro, o faziam esquecer tudo o resto, só importando Ela e apanhá-la e possuí-la e tê-la. Agora é só uma corrida cuja meta não é assim tão importante de alcançar e, portanto, não vale a pena o esforço.

Ela retrai-se. Com o orgulho ferido, mas mantendo a mesma pose, retira-se. Tinha passado tanto tempo a preparar-se e Ele nem reparou. A partir dali, nunca mais o procuraria.

E lá ficou o cão, a observar a gata vaidosa na sua retirada calma - noutros tempos aquilo não teria acontecido, agora não valia a pena cansar-se: o dono estava quase a chegar, aí dar-lhe-á comida que sabe estar quieta.

...

I wanna runaway, never say goodbye, I wanna know the truth, instead I'm wondering why...

Considerações da pessoa (?) que escreve (?):

É possível deixar de se gostar de fazer uma coisa da qual se gosta muito, somente porque já se fez muitas vezes, durante muito tempo?

A pessoa (?) que escreve (?) pensa que sim. Contudo, acha que não.

Alguém sábio uma vez disse que quando se gosta muito de alguma coisa, nunca se farta.

Pois. Exacto.

Epah, delirou.

Take Me Serious or Take Me Down

Ela amava-o demais e aquele sentimento começava a consumi-la.

A toda a hora, minuto, segundo, milésimo dele, nano ele, Ela se perguntava o que andaria Ele a fazer, com quem, se olhava para alguém, se alguém lhe tocava, ... e questionava-se o por que razão não lhe dizia Ele nada.

Ele estava diferente, Ela sentia-o, e dia houve em que o confrontou com tal sentimento.

- É verdade, tu já não estás igual, sinto-te cada vez mais longe.

- O quê... Agora nem temos discutido, quando estamos juntos estamos sempre bem.

- Nem temos falado! Como queres tu discutir? Não, eu não sinto falta de discutir contigo mas sinto a tua falta... Já não queres saber de mim?

- Estás a ficar paranóica, começo a ficar um bocado farto disso.

- Estou só a dizer-te o que sinto. Se guardo para mim, faço mal, digo e sou paranóica...

- É verdade! Tu agora estás sempre a arranjar problemas, a ver coisas onde elas não existem.

- Tu estás diferente! Distante...

- Paranóica.

- Muito bem, não queres que me importe, é? Eu não me importo, não quero saber, fala comigo como quiseres, quando quiseres, se quiseres.

Eu sei muito bem aquilo que sinto, mas se não queres que me importe... Okay. Estás a criar um monstro, ela pensava, enquanto saía dali para fora. Precisava de apanhar ar.

Ligou à melhor amiga, ela iria com certeza ouvi-la e fazê-la rir um bocado, bem precisava. Não atendeu.

E agora? Que é que eu vou fazer agora? O que é que faz alguém que não se importa?

Encontrou refúgio em em casa, no quarto, ao escuro, deitada na cama, ao som de trance até que conseguiu desligar-se de tudo, atingindo um estado de quase transe. Era inexplicável o estado em que tinha ficado depois daquela conversa e agora ali, sozinha, não sentia absolutamente nada. Nada.

O telefone toca, era Ele.

- Sim?

- Eu não te queria fazer sentir mal, mas tens que compreender, tenho-me sentido pressionado, andas a exigir demais de mim, esperas que eu esteja sempre colado a ti, sempre a falar contigo, esperas constantes demonstrações de carinho, e eu não tenho estado à altura das tuas expectativas, mas... É porque elas são muito altas. E tens-me feito sentir um bocado frustrado.

- Paranóica, exigente e faço-te sentir mal. Registado.

- Oh... Não sejas assim... Eu não estou a dizer nada de mal, é só para que percebas...

- Tudo bem, não te preocupes, eu vou baixar a minha fasquia. Não esperes é que eu esteja lá sempre que te apetecer.

- Porque é que estás a ser assim?

- Não estou a dizer nada de mal, é só para que percebas... O meu lado também.

- Não, estás a falar comigo como se te fosse indiferente.

- E é.

- E é?

- Não é o que queres? Que eu não me importe, que não espere, que não exija? Eu não quero saber.

- Não queres saber de mim?

- Quero. Não quero é saber daquilo que fazes, não tenho ciúmes e é-me indiferente falar contigo secamente ou não. Não me vou importar, não vou sentir.

- Logo, não queres saber de mim.

- Mau, afinal o que é que queres?

- Que tenhas um meio-termo.

- Pois não tenho.

- Para ti as coisas são ou pretas ou brancas.

- Sim.

- Vale a pena isto tudo?

- Mas tudo, o quê, amor? Há algum problema? Eu já disse que te não vou mais chatear com as minhas paranóias, que mais queres?

- Está bem.

- Ainda bem que chegámos a um consenso. Agora tenho que desligar, vou tomar banho e despachar-me para ir ao cinema.

- Vais ao cinema?

- Sim.

- Com quem? Pode-se saber?

- Claro, com uma amiga. Beijinho, amo-te.

- Adeus...

Pi pi pi

Eu não quero saber, eu não quero saber, eu não quero saber... Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaarghhhhh. Vou sair.

Deambulando pela cidade, olhando para tudo, vendo nada, vai dar à estação de comboios.

Está na altura de mudar de vida...

Pega no telemóvel e liga-lhe.

- Tu tornaste-te em alguém que eu não conheço, diz o que quiseres, mas tu já não és o mesmo.

- Outra vez? Pensei que não quisesses saber.

- E não quero. Liguei só para me despedir.

- Despedir? Vais acabar comigo?

- Vou-me embora.

- Embora para onde?

- Não sei. Mas vou no próximo comboio.

- Estás a ser dramática. Essa chantagem não vai levar a lado nenhum.

- Paranóica, exigente, má e agora também dramática e chantagista. Afinal por que andas tu comigo?

- Oh... Olha, já me estás a chatear.

- É a última vez, nunca mais te vou chatear. Prometo.

- Pára lá com essa conversa...

- Está na altura de mudar de vida... Amei-te, amo-te e amar-te-ei até ao fim desta vida.

- Eu também te amo... Vamos parar com isto. Diz-me onde estás, eu vou aí buscar-te e falamos com calma.

- Não... Está na altura de mudar de vida... Estou farta desta. Está tudo bem, eu não quero saber.

- Pára com isso, diz-me onde estás.

- Sê feliz. Adeus.

- S...

Pi pi pi

O comboio estava a chegar, iria Ela em frente com a sua decisão?

Caminha em frente, o comboio aproxima-se e Ela caminha mais um pouco.

O comboio está mesmo a chegar e Ela salta para a linha.

Estou prestes a morrer e não quero saber. E tu? Importas-te?

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

PÉUM!

You need me less than I need you, take it from me...

Considerações da pessoa (?) que escreve (?):

A pessoa (?) que escreve (?) considera que o meio-termo nem sempre é fácil de alcançar. Ou se gosta ou não se gosta; ou se ama ou se odeia; ou se preocupa ou não se quer saber; ou se diz ou se está calado; ou batatas ou leite.

Onde é que estão definidos os limites da preocupação? O que é que diz que já se está a gostar demais? Quando é que sabemos que já ultrapassámos os limites que não foram por nós definidos? Como é que sabemos quando devemos parar, quando estamos a exagerar, se na nossa cabeça aquilo faz todo o sentido? Onde é que está a Maddie?

São perguntas difíceis de responder, cujas respostas não estão debaixo do nosso nariz, temos que procurá-las (a menos que estas jazam no seio da famíla McCann.).

Mas aquilo que se deve fazer é não seguir infantilidades, amuos de criança, e falar abertamente sobre as coisas, porque se incomoda a um, incomoda ao outro. E um tem que está disponível para ouvir o outro - não pode ser só ao contrário. Outra opção seria não despedir o Gonçalo Amaral.

E a morte nunca é solução para nada, ainda por cima assim, desta maneira imunda, ainda ia dar trabalho a outras pessoas, para apanhar os bocadinhos, provocar vómitos a umas, pesadelos a outras... Enfim, seria uma maçada. Esta Ela estava convencida que se se matasse iria ter uma nova vida.

Era avariadinha da cabeça, coitada.

Quanto a mim, enquanto não houverem dados científicos de que há de facto uma vida depois desta, e melhor, claro, quero continuar vivinha da Silva.

Pode ter momentos maus, mas tem outros tão bons.

Epah, delirou.

Or Mine, Or Dead

Ela estava no banho, passando a esponja pelo corpo obviamente nu, coberta com a espuma branca, cheirando a leite e mel.
A água quente envolvia-a num nevoeiro quente.
Aquele tinha sido um bom dia: tinha acordado antes do despertador tocar, não tinha então ouvido aquele som estridente e extremamente irritante, pelo contrário, havia despertado por si depois de um sonho maravilhoso. Preparou-se para sair de casa com calma, o trabalho tinha sido levezinho, tinha trocado algumas mensagens agradáveis com alguém especial, não tinha havido qualquer tipo de chatices e agora chegava a casa e estava a tomar aquele banho tão bom. Só faltava ali a companhia certa.
Ele desviou a cortina de banho e entrou silenciosamente. Ela estava de costas para Ele.
Agarrou-a bruscamente fazendo-a soltar um grito de terror, tapou-lhe a boca e encostou-a contra a parede molhada, olhou-a bem nos olhos (aterrorizados, diga-se.) e, com a mão que estava livre, percorreu-lhe o corpo com satisfação. Ela tremia.
Os seus olhos percorriam-na repletos de luxúria e de um desejo assustador.
As lágrimas jorram agora pela face dela.
- Não gosto de te ver chorar.
Destapou-lhe a boca, queria ouvi-la gritar.
E então tirou do bolso de trás, das calças que não tinha tirado, a sua navalha e esfaqueou-a repetidamente no ventre. Sangue jorrava já pelas feridas abertas pela lâmina e também da boca dela. Ela olhava-o com os olhos semi-cerrados pela dor agoniante que sentia e Ele beijou-a, bebendo-lhe o sangue. Amo-te, disse-lhe. E foi a última coisa que Ela ouviu nesta vida. Cerrou por completo os olhos e foi largada por Ele, escorregando pela parede até encontrar o fundo da banheira, deixando por cima de si um rasto vermelho - o vermelho da paixão.
- Não fui eu quem assim quis. Podiamos ter tido tudo. O que é que ele tem que eu não tenho? Foi sexo? Eu não merecia isto...
E saiu daquele banho de sangue, deixando o chão molhado por onde ia passando devido claramente à sua roupa encharcada, mas também poderia ser pelas negras lágrimas que lhe escorriam incontrolavelmente pela cara... chorava tão alto e com tanta força quanto a água que ainda corria apressada do choveiro...

WOOO!
I've got more wit, a better kiss, a hotter touch, a better fuck than any boy you'll ever meet...

Considerações da pessoa (?) que escreve (?):

A pessoa (?) que escreve (?) tem a aconselhar a que não deites foguetes antes da meia-noite, ah e tal o dia correu-me tão bem... Nunca se sabe quando é que um(a) ex-namorado(a) maluco(a) te pode entrar pela banheira adentro e penetrar-te com aço (em sentido literal).
Ah e, agora para quem estiver do outro lado da navalha, quando matarem algum(a) ex-namorado(a) no banho, fechem a água antes de sair. O ambiente não tem culpa de ele(a) sido um(a) porco(a) para ti.
Estes (a) são irritantes.

Epah, delirou.

Where The Streets Have No Name

- Apetece-me vestir-te.
- Mas eu estou vestido...
- Não, vestir-te em mim. És o número certo, assentas-me que nem uma luva, não precisava de vestir mais nada...
- As coisas que te passam pela cabeça...
- Não fazes ideia das coisas que me passam pela cabeça...
- É preciso ter medo?
- Porquê? Portaste-te mal?
- Não...
- Queres portar-te?
- Que tarada!
- Pronto, já me calei.
- Oh não, não... Estavas a ir muito bem.
- Já é tarde... Não queres ir dormir?
- Estamos aqui tão bem.
- É? Eu acho que podíamos estar muito melhor.
- Podíamos? Como?
- Se entrasses.
- Já estamos dentro de casa. Estás a falar de quê?
- De mim. Quero que entres em mim.
- Não me parece mal...
- Porquê?
- Porque eu também gostava de entrar. Despertas qualquer coisa...
- Isso é bom?
- Experimenta...
- Vestir-te?
- Ah ah! Sim, claro...
- E posso exibir-me?
- Como assim?
- Passear-me pelas ruas do teu corpo.
- Claro, vaguei-a por aí à vontade, demora-te.
- Era capaz de cá morar.

E as duas almas entregam-se uma à outra. Fazem amor, toda a noite, toda manhã, toda a tarde, toda a noite.
Ninguém aguenta tanto tempo.
Quem é que não acredita que é possível morrer de desejo?

IIIIAAAH!
Touch me, feel me, love me, as if it was our last day...



Considerações da pessoa (?) que escreve (?):

A pessoa (?) que escreve (?) quer dizer apenas que desejar também é fodido - em sentido lato.


Epah, delirou.

Possession

Oh mas aquilo era bom demais, Ela não conseguia acreditar nas informações que lhe chegavam ao cérebro.
Seria possível existir algo TÃO bom?
Sim! SIm! SIM!
Ela perdeu controlo do seu corpo, deixou-se ir ao sabor daquela quase melodia.
Aquele toque...
Caía o calor sobre Ela, tremia de prazer. Queria aquela sensação para sempre.
Definitivamente, Ela não tinha o controlo, Ela estava sob controlo, Ele possuía-a.
SIm, SIM! SIM!
- Nunca mais saias de ao pé de mim - pedia sofregamente.
O suor escorria-lhe pelo corpo, a tensão era muita, o calor toldava-lhe o encéfalo.
SIM! SIM! SIM!
- Fica para sempre comigo!
Bem-dito Sol, bem-ditos centros de ALTA pressão.
Pois é, uns diazinhos a saber a Verão fazem maravilhas.

CATCHIM!
Hey, I really need a sunny day, I need some heat to come my way...

Considerações da pessoa (?) que escreve (?):

A pessoa (?) que escreve (?) tem apenas a explicar o facto de não ter morrido ninguém neste post... E a explicação é que a vida é bela. Não lhe apeteceu matar ninguém.
Calor é tão bom! Há quem tenha orgasmos psicológicos com ele...


Epah, delirou.

Rule The Midnight Air, The Destroyer

Ela passeava-se pela roupa dele.
Passando suavemente as suas mãos nas costas dele, os pés, a boca...
Ele parecia não a sentir, ela estava ali, a dar tudo o que tinha, mas ele parecia nem dar conta que Ela ali estava, era-lhe completamente indiferente.
Ela, magoada, tenta mais uma chamar-lhe a atenção. Alcança-lhe a orelha e faz-lhe cócegas, morde-o suavemente. Alguma reacção?
Sim. Ele coça insistentemente a orelha, dizendo, grosseira e rudemente, 'que coisa! Pff...'
Nunca tinha sentido tanto desprezo, como? Só faltou sacudi-la dali, qual insecto insignificante.
Desceu-lhe até ao peito. 'Será que assim me consegues ver? Será que assim dás por mim?'
- Ahhhh! (Ele, num grito agonizante)
E, num gesto firme, empurra-a, sacode-a.
Ela sai pelos ares, rodopiando, é afastada uns bons metros. Quem lhe dera cair de cabeça e morrer, ia ser menos doloroso do que o que acabara de acontecer.
Ele encolheu-se num canto, tremendo, encolhido, observando-a cair lá ao longe. 'Será que morreu? Eu matei-a? Espero que sim.'
Contudo não tinha coragem de ir lá verificar, e se ela ainda estivesse viva?
Maldita fobia a formigas.


WOW!
Die, by my hand, I creep across the land...


Considerações da pessoa (?) que escreve (?):

A pessoa (?) que escreve (?) não tem absolutamente nada a dizer. Apenas que não tem fobias, mas até precisa de um psicólogo.


Epah, delirou.